No meio de todo mundo eu preciso ser "normal". Isso é, exatamente, prender o choro, engolir a vontade de gritar, fechar os olhos para não ver as imagens ficando enormes, e colocar discretamente uma pílula sob a língua e rezar para tudo passar.
Não desejo que as pessoas entendam tudo o que sinto porque só entende quem já passou ou passa pelo mesmo sufoco. Na verdade, eu deveria ter um atestado médico para ficar uns dias longe do trabalho e me dedicar a outras coisas, as que gosto de fazer, as que me deixam de bem comigo mesma. Acredite, há.
Algumas vezes eu desejo o abandono, desejo me isolar de tudo e de todos e ficar à mercê da minha vontade, de deitar, de levantar, de abrir a janela, de calçar os pés, de sair na rua de pijama. Outras vezes eu sofro muito por me sentir sozinha, por não ter um ombro, um colo num dia como o de hoje, como o de ontem. Sofro por me sentir indefesa como uma criança de três anos que, chorando, pede colo para se sentir protegida e segura. Eu não tenho esse colo. E ainda acho errado precisar dele.
O semblante do meu cachorro reflete o meu. Ele anda encurvado pelos cantos da casa, a me seguir, observando todos os meus movimentos. Meu cachorro fica triste só porque eu estou triste e eu vejo no seu olhar que ele queria que não fosse assim. Arrasta o pano que lhe serve de cama para o meu quarto e quer-porque-quer dormir na minha cabeceira, como se me vigiasse, como se dissesse "Eu estou aqui com você".
(...)
Choro, agitação de mãos e pés, pensamentos desordenados, medo de dormir, remédio embaixo da língua, e a imagem de minha mãe morta, como se eu a tivesse visto antes de ser posta no caixão. Então eu toco em seu corpo ainda quente, ponho seus braços em volta do meu pescoço, beijo-a e converso em seu ouvido. Ela já está vestida "de enterro". Aí eu também quero morrer porque eu deveria ter ido vê-la na UTI enquanto ela ainda vivia, deveria ter viajado pra ir vê-la, e não o fiz. A "presença" de minha mãe nesta noite me machucou muito, pois eu me mutilo por dentro sempre que mergulho nesse ponto do oceano.
(...)
Além do SOS sublingual, tomei o comprimido habitual, conforme prescrito, me encolhi como um feto e desejei que o resto do mundo desaparecesse... e desapareceu... quando eu dormi.
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