12 de abr. de 2009

Luzes azuis

Tomei um banho de chuva, uma chuva torrencial que lavou de mim, retirou bruscamente uma casca grossa de lama que me cobria inteira. Pude ver a água grossa e escura escorrendo sobre a pele que ia aparecendo aos poucos.
Quando me falaram da possibilidade dessa tempestade vir eu chorei muito, sofri, senti um medo quase inexplicável da tormenta. Mas pensei também que eu me livraria daquela casca escura e fétida que me prendia num outro mundo e me isolava das pessoas. Minha mãe dizia que os remédios mais eficazes e rápidos são amargos.
Então, de olhos fechados, rosto voltado pra cima e braços abertos, eu me entreguei ao remédio amargo. Vi a mim mesma, de quem eu tanto sentia saudades. Vi meus dedos, meus braços surgindo aos poucos, vi a cor da minha pele aparecendo timidamente. Senti meus cabelos tocarem meus ombros.
Quando senti medo, comecei a ouvir a canção de Éolo, e tão forte e tão alta, e cantarolei seus acordes, e os trovões vieram violentos, os raios caíram muito perto de mim, o céu parecia querer rasgar-se de tanta fúria, e eu estava protegida por uma colina de girassóis, dentro da minha mente.
Assim que toda a lama havia saído de mim, a chuva parou, eu abri os olhos e vi milhares de pequenas luzes azuis caindo, flutuando como pirilampos à minha volta, me convidando pra dançar. E eu dancei, com as asas abertas e os pés descalços, me sentindo leve, livre daquela terra que me cobria. Ouvi os trovões, vi os raios, mas não os temi.
Agora eu estou do lado de fora da grade, do corredor, dos altos muros. Agora eu estou parada, de pé, olhando o enorme portão que me separava de mim mesma. E eu preciso começar a caminhar.

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