27 de fev. de 2009

Cachorro molhado de chuva

Quem nunca viu um cachorro de rua quando toma chuva? Fedido, com o pelo encharcado, baixa as orelhas e o rabo e anda cambaleando desconfiado pelos cantos. Olhando bem, até parece que a culpa é dele se está chovendo, tal é o seu jeito humilhado de ser naquele instante. Ele sente-se culpado mesmo, mas nunca saberemos de quê.Algumas vezes eu me senti como um cachorro molhado de chuva, e andei encurvada, escondendo o rosto, de cabeça baixa, tentando esconder um rabo imaginário entre as pernas. Tinha tanta vergonha de mim e das pessoas que não sabia, como o cachorro, explicar de quê. Várias vezes eu deixei o ninho e fui me aventurar pelo céu, em busca de um grande amor, de um trabalho promissor, de uma vida mais bonita. Em todas elas eu voltei ao ninho derrotada, com o rabo (ou as asas) metidos entre as pernas (ou patas). Voltei humilhada por mim mesma, e muito mais por outros que não se importaram nem um pouco com a minha dor. Eu nunca soube me defender. Isso vem lá da infância. Lembro bem de quando eu tinha uns nove anos e uma colega valentona me esbofeteou na cara duas vezes e eu só consegui chorar. A classe inteira rindo de mim, a pele queimando e ficando vermelha, a marca dos dedos se desenhando no meu rosto, e eu somente chorava. Outras tantas vezes, vida a fora, eu engoli tudo calada para não ofender alguém, para defender alguém, para evitar coisas piores. Quantas, tantas, outras vezes eu assumi culpas por coisas que não fiz, e somente me calei... Muitas e muitas vezes fui injustiçada pela minha própria família, que defendia meus primos e me acusava de todas as travessuras feitas...Se eu fosse contar.... ah, se eu fosse contar todas as coisas que lembro (e não me lembro de todas), seriam posts infinitos.

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