6 de set. de 2011

O sequestro da subjetividade

Quem Me Roubou De Mim? O Sequestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa

O Sequestro da Subjetividade

"O sequestro do corpo refere-se primeiramente ao aprisionamento material da pessoa. É o corpo que é aprisinoado, e o corpo é matéria, é concreto, manuseável. O primeiro passo portanto, é a condução violenta do corpo para o cativeiro, lugar também material.

A diferenciação que agora faremos tem como objetivo apenas um favorecimento didático. Tratar do sequestro da subjetividade na comparação com o sequestro do corpo não significa que estamos fazendo uma ruptura entre materialidade do ser humano e sua subjetividade. Não queremos compartilhar as realidades, tampouco legitimar no nosso discurso a perspectiva platônica de que o corpo é a prisão da alma. Sabemos que com o aprisionamento do corpo toda a subjetividade sofre também. Este sofrimento é imediato, porque é brutal. É o corpo que é roubado, levado de seu lugar e seus significados. Já no sequestro da subjetividade nem sempre há o sofriemnto imediato do corpo. O que há é o sofriemnto psicológico que, com o tempo, refletirá no corpo. Por ser um processo mais lento, o sequestro da subjetividade pode, num primeiro momento, ser sinônimo de prazer, satisfação, porque o corpo não é subjugado a maus tratos concretos, com no caso do sequestro da materialidade.

Há casos de sequestro da subjetividade que desembocam em violências físicas também, mas tais violências não fazem parte do processo inicial, porque o sequestrador não poderá seduzir sua vítima pela força da violência, ao contrário, inicialmente será dócil, cortês, gentil e usará de todas as artimanhas para que a sedução seja bem-sucedida. Há prisões que são mias que paredes e celas. Há prisões que não são concretas, e por isso mesmo não há nada que possa ser concretamente ser quebrados.

No sequestro do corpo há um cativeiro localizado que precisa ser aberto. No sequestro da subjetividade os cativeiros não possuem localização para que possamos chegar pela força de nossos pés. Trata-se de uma prisão mais sutil, mas nem por isso menos cruel. o que podemos perceber é que a estrutura social em que estamos situados é fortemente marcada pelas relações que sequestram. É sequestro da subjetividade tudo aquilo que nos priva de nós mesmos. Até mesmo nas pequenas realidades, as mais simples, há sempre o risco de que estejamos abrindo mão de nossos valores em detrimento da vontade de sequestradores que em nada estão comprometidos com nossa realização humana.  

É sequestro da subjetividade todo o processo que neutraliza e impede o ser humano de conhecer-se, passando a assumir uma postura ditada por outros. É sequestro da subjetividade a projeção da vida humana em metas inalcançáveis,costurada à menstalidade de que as pessoas são perfeitas e que há sempre um final feliz reservado, pronto para chover do céu sobre nossas cabeças. Mas também é sequetro da subjetividae a projeção da vida humana a partir de metas rasas, em que a mediocridade é a regra a ser considerada e o pessimismo antopológico é a consequência.

É sequestro da subjetividade quando alguém, no exercício de imaginar, projeta o outro como personagem, e com ele estabelece uma relação baseada na falsidade que despersonaliza e aprisiona. Jura a promessa de um amor eterno que desdobra em cruel forma de prisão.
É sequestro da subjetividade toda relação de trabalho que seja marcada pelo desrespeito à dignidade do trabalhador, forçando-o a se tornar mero mecanismo de produção, desconsiderando sua condição de ser humano que merece descabso e remuneração justa.

É sequestro da subjetividade cada vez que, no processo educacional, as crianças são submetidas à pedagogia do medo e o aprendizado se torna um fardo, deixa de ser um desejo. É sequestro da subjetividade cada vez que o sujeito é desconsiderado com organismo vivo, colocado na condição de mecanismo, objeto manuseável."

Fonte: Livro Quem me roubou de mim? O sequestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa- Pe. Fábio de Melo.

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