29 de out. de 2011

O abismo


Tudo o que eu disser aqui agora pode ser chamado de desculpa.

Desculpas para não passar no concurso: eu moro atualmente na casa de tios, uma casa agitada, cheia de gente entrando e saindo o tempo todo, sem nenhuma privacidade, uma casa simples e humilde, sem muito conforto (mesmo que cheia de carinho ao me receber), meu tio tem problemas auditivos e a TV sempre está  ligada em alto volume, faz muito calor porque o telhado é baixo e de amianto, pega o sol da tarde direto no quarto e na sala onde fica o computador, minha cabeça está uma droga, muita preocupação com emprego, com grana, com minha filha fazendo dezoito anos e sem poder ter um rumo quanto à faculdade por causa da nossa "instabilidade domiciliar". Bem, não faltam motivos para eu não estar me concentrando, para eu pensar em tudo e mais alguma coisa na hora que tenho os livros e apostilas abertos à minha frente. Não faltam motivos para eu não estar dormindo direito à noite, com sono muito leve, quase um cochilo, e acordando na madrugada sem voltar a dormir até o amanhecer.



É isso, eu estou entrando em crise novamente. Porque estou sentindo minhas forças se esvaindo nessa luta tão dura para reconstruir minha vida, para voltar a ter ao menos um lugar para morar, na busca por um trabalho. Estou me consumindo em preocupações (que, sim, sei que não resolvem nada) com toda essa situação que não aponta para nenhuma saída.

Sim, eu vou voltar ao remedinho querido, vou ao médico (certamente não será um psiquiatra porque não tenho grana para bancar) e vou pedir que me prescreva citalopram ou sertralina, que já tomei e já conheço os efeitos. Perdoem-me aqueles que se decepcionarem comigo por essa atitude, mas eu não posso esperar que tudo caia sobre minha cabeça novamente, não posso esperar que falte a força para sair do quarto ou que volte o amor pelo canto escuro. Tenho mexido nas unhas dos pés novamente, não com a mesma fúria de antes, longe disso, mas com alguma similaridade na angústia que me motiva a fazê-lo e eu decidi também, por prevenção, voltar a frequentar a pedicure toda semana. (Leia sobre isso aqui e aqui )

Chorar é fácil, como acontece agora, lágrimas vêm depois que um nó muito forte aperta a garganta. E justo agora eu escolho e ouço um cd que lembra a morte da minha mãe (desejo pelo sofrimento? autopunição? martírio?). Minha filha saiu, foi a uma festa com o namorado. Meus tios saíram, foram a um bar de um vizinho. Minha prima também saiu, foi dormir na casa da madrinha. Fiquei aqui com os dois cachorros, cada um dormindo num canto da casa, e me lembrei de quando eu me sentia absurdamente sozinha e corria para o blog (que tinha outro nome até pouco tempo atrás), e então eu vim aqui, molhar as teclas com essa solidão.

Essa semana eu excluí minhas contas pessoais do Facebook e do Orkut e de uma vez por todas mudei o nome do blog (a versão do Blogspot) para retomar a liberdade de escrever sem barreiras, sem filtros, sem a maldita preocupação com o fato de que "o" (e não meu) ex-marido vai ler (porque o blog era minha última ligação com ele, eu sabia de todas as vezes que ele acessava e o que ele lia por meio de um site de estatísticas que eu usava somente para esse fim). Mudei a url, o endereço, e agora posso escrever o que for preciso, que pelo menos por algum tempo ele não vai encontrar (pretensão minha acreditar que ele vá procurar). Mas o Face eu usava para falar com alguns amigos, eu me sentia mais próxima a eles, e eu tive que destruir para não cair mais na tentação de ficar olhando o perfil do ex e as fotos com a nova mulher, e querer morrer por isso.

Desisti, definitivamente, de procurar emprego em Brasília, pois eu preciso admitir que o que eu quero em Brasília não é principalmente emprego. E eu não posso, não devo querer o que quero. Ou melhor, a gente não pode evitar querer algo, mas pode evitar se dar algo, não satisfazer nosso querer, não ceder às pressões do ego ferido e machucado.
DROGA DE EGO!

Um ego que chora de dor porque o ex está vivendo com outra mulher uma cópia da vida que viveu comigo. Parece absurdo eu falar assim, mas só vendo as fotos dos dois juntos... ela usa meus patins, MEUS PATINS, que nós dois compramos juntos e aprendemos juntos a patinar, ele tira fotos dela fazendo as mesmas coisas que eu fiz ou fazia, são fotos praticamente iguais, na mesma situação, comendo a mesma comida no mesmo lugar, e o pior de tudo, ele a levou ao mesmo lugar onde passamos lua de mel, onde trocamos alianças e juras de um amor eterno. Sabe, foi tanta merda que ele fez na minha vida, nos piores momentos ele conseguiu me destruir como mulher, como pessoa, como ser humano, ele dá sinais claros de ser psicótico, e eu continuo aqui sofrendo por isso. Pelo que, mesmo? Sofrendo pelo que? Pelo ego machucado, pela humilhação, por ter me deixado enganar tanto, por ter acreditado tanto e apostado tudo, tudo o que eu tinha num sonho de amor. Idiota, eu. Idiota... um sonho de amor...

O que me restou foi um peito arrebentado de tanta mágoa, de tanta dor, umas caixas de papelão e duas malas. E essa sensação maldita de que "ainda não acabou", como se houvesse algo ainda a ser dito, como se ele me devesse ainda alguma coisa, como se fosse preciso retomar a relação para consertar algo e terminar de outra forma. Nenhuma terapia até agora foi capaz de me libertar desse sentimento. Eu estive muito bem quando voltei do Vale, da iniciação de Clown, mas agora tudo volta com essa força tamanha.
Uma pessoa me disse que a única forma de se livrar de um sociopata ou dos danos causados por ele é destruindo toda e qualquer lembrança possível, e cortando qualquer tipo de ligação, de contato, é literalmente fugindo. E eu estou fazendo isso agora.

Provavelmente não vou passar no concurso. Ainda não desisti de enviar currículos para todo canto do Brasil e até para o exterior, e nem de procurar emprego aqui mesmo nessa cidade horrorosa. Ainda não desisti porque não posso, porque olho minha filha sofrendo num trabalho ruim todos os dias e ganhando meio salário mínimo, tendo que gastar a metade disso com condução. Por que vejo-a dormindo num colchão no chão do quarto que dividimos com minha prima e sonhando em poder dormir até tarde no domingo quando estivermos em nossa casa, vivendo sob nossas regras e não sob as regras dos outros.

A vida tá difícil e pesada novamente. Até aqui eu consegui abrir a porta todas as manhãs e sair para enfrentar o mundo como ele é. Não sei até quando conseguirei.

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