15 de mar. de 2009

14 de março, segunda parte, no comecinho da noite.

Cessa o movimento. Meu olhar se esvazia. Meu semblante cai. Sentada, deitada, numa pose de completo abandono. Esses minutos não existem, não os vivo, como se eu estivesse fora do plano onde a vida segue pra todo mundo. As pálpebras ficam pesadas e eu penso em tomar um tranquilizante, mas ainda não. Eu sei que posso passar horas, dias assim, ausente, prostrada, pois já foi esse o começo noutras vezes. Esse é o momento em que eu me mexo ou me deixo ficar. E ainda acho que não sou eu quem decide isso.
Nesse exato momento não sofro... porque não existo. Sei que ninguém vai me tirar daqui, nem me puxar de volta. E eu sinto que estou indo. Não consigo pensar em nada concreto. Não há nenhum motivo para me levantar daqui. Tenho muito trabalho pra fazer, mas eu não consigo começar. Nem sei se me importo com isso.
Eu me vejo andando lentamente num corredor de hospital, vazio, de pés descalços e pijamas. O corredor só tem uma porta no final, com uma luz acesa. Ando devagar, o corredor é muito longo e quanto mais eu ando, mais a porta fica distante. Não olho para trás. Eu chamo por mim mesma, mas aquela que sou eu continua andando sem olhar pra trás.
Não sei se isso é um delírio. Aqui, eu comecei a suar muito e minha respiração acelerou, fiquei cansada. Não quero... não sei o que vai acontecer.
(...)
Alguém me disse no fim de fevereiro, mês passado: "VOCÊ NASCEU PRA SER INFELIZ" e "VOCÊ NÃO NASCEU PRA SER AMADA, MAS PRA SER USADA".
(...)
Muitas vezes, como agora, eu fico ouvindo essa voz repetindo isso centenas de vezes, ininterruptamente, dentro da minha cabeça, como se fosse um disco arranhado, e como um chicote estalando em minhas costas nuas.

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