15 de jun. de 2012

TOC e humor

É um desespero enorme para se livrar daquela coisa ou situação que causa medo, pavor, desconforto, que ameaça. Quem tem TOC ou comportamentos obsessivos sabe bem o que é isso.
…”se livrar daquela coisa ou situação”... Eu acho que esse é um dos principais fundamentos do TOC, é querermos nos livrar de algo que está DENTRO de nós e não fora. Lembro bem que eu enfiava o palito mais fundo nas feridas das unhas à medida que pensava em coisas que não conseguia resolver, em tantos problemas que pareciam não ter solução (Veja MINHAS UNHAS como ficaram). Com o tempo eu fui observando que a vontade incontrolável de cutucar as unhas começava junto com o turbilhão de pensamentos ruins. Realmente eu “queria arrancar de mim” aquelas dores, aquele sofrimento que eu não conseguia parar. E isso não quer dizer que se você resolver uma coisa a outra vai embora automaticamente.


Aliás, o TOC costuma mudar de forma, feito um camaleão, e quando eu parei de destruir as unhas dos pés, comecei a praticar uma organização furiosa em casa, o que me deixava muito irritada e explosiva porque ninguém mais enxergava a bagunça que eu via. Depois disso eu passei a evitar assentos de locais públicos, maçanetas de portas, torneiras de banheiros, corrimão de escadas (especialmente as rolantes) e enfim, a coisa se virou para a nuance da higiene e contaminação (Leia sobre  TOC relativo à nojo e contaminação). Quanto mais ansiosa, mais preocupada ou triste, mais atitudes obsessivo-compulsivas. Ainda é assim.
Todos os dias eu pego dois ônibus para ir ao trabalho (só de ida) e eu fico muito estressada, muito estressada mesmo quando as pessoas encostam em mim, quando eu tenho que me segurar em um daqueles canos (corrimãos) e eles estão deslizando de sujeira, de gordura de outras tantas mãos que já passaram por ali. Quando alguém espirra ou tosse dentro de um ônibus, sem cobrir a boca e o nariz com as mãos, eu me contraio toda porque sei (e quase vejo) que milhares de vírus e bactérias estão sendo lançados no ar que eu vou respirar em segundos. Quando alguém se senta perto de mim, ou mesmo de pé, eu sinto quase sempre o cheiro da pessoa, e se ele não é bom eu sinto náuseas, e fico furiosa com o fato de que as pessoas "não se limpam como deveriam, não se cuidam, não têm o menor senso de limpeza". Pronto, falei…
Mas, ao mesmo tempo, eu sei que isso está só na minha cabeça, que de alguma forma potencializa os meus sentidos e faz com que eu perceba tão intensamente o que as outras pessoas simplesmente ignoram. Então, na maioria das vezes, maioria mesmo, eu faço minhas caras feias e só. Guardo meu rancor e minha agonia só para mim. Mentira, porque isso vai se refletir na forma como eu encaro o resto do dia. Tudo bem que eu faço um trabalho incansável de catarse, eu respiro fundo, eu mudo de assunto o meu pensamento e vou lá, matar o meu leão diário. Mas algum resquício fica, e acaba sobrando para alguém ou algo.
Sabe o que mais? Tudo depende do meu humor no exato momento em que eu disparo ou não a atitude obsessivo-compulsiva. Eu explico: há dias em que eu como uma coisa que caiu no chão (e daí, todo mundo faz), dando risada até, ou que eu nem me dou conta que o ônibus está cheio, lotado e que estou espremida entre trabalhadores como eu; há outros dias em que só de ouvir uma história sobre uma pessoa suada e cebosa, tenho náuseas. Então, existe um verificador aí, que provavelmente tem a ver com meu humor. A psicologia vai me explicar isso um dia. Observe aí, você que tem TOC, em quais situações a coisa se agrava, a crise vem, ou, se for mais fácil, em quais você se sente melhor. Isso vai ajuar a entender o seu transtorno e a conviver melhor com ele.

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